O texto abaixo corresponde a um capitulo do livro THE CORPORATE PLANET - Ecology and Politics in the Age of Globalization, cujo autor é JOSHUA KARLINER - Sierra Club Book - 1997 -. Foi digitado por uma pessoa de boa índole e aguerrido, honesto, amigo, um sábio, cujo bom humor contagia a todos! Inteligente, amante da Justiça e das mais belas melodias, possui mais de 5000 discos, entre LP e CD/DVD! Então, meu amigo Jurandy se empenhou em traduzir para o potuguês, digitalizar e repassar para um grupo de colegas que discutiam sobre a publicidade na questão ambiental. Percebendo o valor do texto, e por pelo fato de estar traduzido, passou a distribuí-lo pela internet e outros meios! Recebi esse texto em 2001, li, distribui e salvei num CD! Semana passada mexendo na CDteca encontrei essa pérola e resolvi compartilhar com todos.
O livro "Primavera Silenciosa" é leitura 'obrigatória' para todos aqueles que desejam maior compreensão sobre esse estado de coisas que estamos vivenciando, desde os desmatamentos na Amazonia, destruição da camada de ozonio, pesticidas, agrotoxicos, o genocidio em paises africanos, milhões morrendo por causa da desnutrição e falta d'água e contaminação destas, o consumismo desenfreado, a concentração de terras, os sem-terras, sem-tetos, sem-saude.......enfim, a destruição do planeta, da Humanidade e sua belissima e intrigante BIODIVERSIDADE!!!
Leiam o texto abaixo e terão uma incontrolável vontade em ler Primavera Silenciosa, o qual temos em PDF e tentaremos disponibilizar aqui no Blog em "Publicações Interessantes", bem lá embaixo!
O livro "Primavera Silenciosa" é leitura 'obrigatória' para todos aqueles que desejam maior compreensão sobre esse estado de coisas que estamos vivenciando, desde os desmatamentos na Amazonia, destruição da camada de ozonio, pesticidas, agrotoxicos, o genocidio em paises africanos, milhões morrendo por causa da desnutrição e falta d'água e contaminação destas, o consumismo desenfreado, a concentração de terras, os sem-terras, sem-tetos, sem-saude.......enfim, a destruição do planeta, da Humanidade e sua belissima e intrigante BIODIVERSIDADE!!!
Leiam o texto abaixo e terão uma incontrolável vontade em ler Primavera Silenciosa, o qual temos em PDF e tentaremos disponibilizar aqui no Blog em "Publicações Interessantes", bem lá embaixo!
Publicidade, Relações Públicas e a Produção do Desejo
Uma pequena borboleta azul voa através da tela de
televisão para milhões de espectadores. A voz do narrador expõe o programa da
CHEVRON para salvar esta espécie em perigo de extinção e retóricamente pergunta
a audiência: “Será que as pessoas fazem isso, para que um décimo de grama de
beleza possa sobreviver?” O narrador então volta ao tema da campanha
publicitária cujo slogan é “People Do” ( As Pessoas Fazem). Não mencionado e
oculto é o fato que as dunas onde a borboleta azul vive, num local rodeado de
arame farpado, está sobre um dos maiores vazamento subterrâneo de óleo dos
Estados Unidos. Os espectadores não
têm idéia que a borboleta voa em uma das
maiores fontes de poluição da Bacia de Los Angeles – a refinaria El Segundo, da
CHEVRON.
A campanha
“People Do” consiste de mais de vinte
anúncios publicitários que elogiam projetos
similares em locais similares do
império da CHEVRON. Os anúncios publicitários na televisão criam a impressão
que a CHEVRON, uma das maiores poluidoras do mundo, é um grupo de pessoas responsáveis, verdes, amadores de borboletas,
raposas e ursos. Esses anúncios são apenas uma pequena onda numa torrente de publicidade ambiental das corporações que
inundaram as televisões e a mídia escrita. Este
dilúvio de propaganda objetiva desfazer a imagem negativa associada a
muitas transnacionais. Procura convencer o público que os até agora vistos como
eco-vilões, são, na realidade, ambientalistas. Esforça-se para tranqüilizar os funcionários e
acionistas inquietos. E é feita para
vender produtos.
Esta
prática de lavagem ambiental, comumente conhecida como “lavagem verde” das
corporações, foi bem definida pelo grupo ambientalista Greenpeace como a
situação “onde as multinacionais estão preservando e expandindo seus mercados
posando de ambientalistas e líderes da luta para a erradicação da pobreza”.
Este capítulo examina a publicidade e
Relações Públicas (RP), largamente responsáveis pelo desenvolvimento e
implementação das estratégias de comunicação, que facilitam estas ilusões, para
as transnacionais.
O
empresário-ambientalista Paul Hawken escreveu que, em geral, a despeito de
alguns avanços significantes nas ultimas décadas, “campanhas de publicidade
ambiental representam o limite para o qual as corporações aceitam presentemente
os problemas ambientais”. De fato, as transnacionais fizeram um grande esforço
para construir a miragem de
sustentabilidade em vez de transformar suas realidades. Fazendo um esforço de
apropriação de símbolos, linguagem e mensagem de ambientalismo enquanto
continuam a promover as crescentes sociedades de consumo, elas criaram um mundo
de imagem e mito – uma Cidade Esmeralda global na qual as coisas irradiam uma
agradável tonalidade verde e as pessoas
compram felizes cantando seus jingles
comerciais favoritos.
CONSTRUINDO A CIDADE ESMERALDA
As relações
públicas modernas surgiram nas primeiras décadas do século vinte, inventadas
por homens como Lee e Edward Bernays. Estes pioneiros das RPs foram contratados
pelas grandes corporações , inclusive a Standart Oil, de John D. Rockfeller,
para emperrar os esforços de regulamentação governamental e modificar o que era
na época um forte sentimento público anticorporação. O papel que os
descendentes de Lee e Barnays desempenharam arrumando e distorcendo as questões ambientais remontam à
edição do livro de Rachel Carson “Primavera Silenciosa”, livro
creditado como catalisador do moderno movimento ambiental. Em resposta à “Primavera
Silenciosa”, a Associação de Produtores Químicos recrutou um jovem
chamado E. Bruce Harrison, cujo trabalho foi desenvolver uma resposta
coordenada entre as grandes corporações químicas para o cortante e profético relato dos impactos ecológicos de pesticidas
tais como DDT de “Primavera Silenciosa”. No seu papel de um dos
primeiros antiambientalista do mundo – sua função na AMC era “gerente de
informação ambiental”- Harrison plantou as sementes das relações públicas das
corporações como resposta ao moderno ambientalismo. Trabalhando com
representantes de relações públicas (RP) da DuPont, Dow, Monsanto, Shell e W.R.
Grace, Harrison desenvolveu uma
estratégia para combater Carson e a repercussão de seu livro. Este esforço foi
descrito pela publicação de interesse público “PR Watch” como a “RP equivalente a uma campanha prolongada de
bombardeamento”. Neste período, Harrison e seus colegas elaboraram táticas que
desde então tem sido aprimoradas como armas chaves no arsenal de “crise
comunicação” da indústria .
David
Brower, que era diretor executivo do Sierra Club na época, recorda os esforços
de Harrison, observando que “o vigor dos mecanismos de defesa da indústria
química, misturado com o ácido dos apologistas, era de se ver”. De acordo com
Brower, a “fúria destrutiva” com que as
indústrias químicas lutaram contra o livro de Carson afetou até os diretores do
Sierra Club por um período, que ficaram em dúvida, até adotar uma sã política
em relação aos pesticidas. A despeito do
fracasso para convencer os membros do Sierra Club, Harrison e a indústria química conseguiram semear
considerável dúvida no público a respeito das críticas de Carson. Desde “Primavera Silenciosa”, Harrison tem
estado na vanguarda da indústria de relações pública (RP) . Atualmente os
clientes da E. Bruce Harrison Company incluem mais de oitenta das maiores 500
companhias da Fortune e associações como a Global Climate Coalition.
Os esforços
de Harrison para rebater “Primavera Silenciosa” e reabilitar a
imagem da indústria química foi
acompanhada pelo o que o ex executivo de publicidade da Madison Avenue, Jerry Mander, recorda como uma “erupção” da
publicidade ambiental das corporações. Enquanto
o movimento ambiental contemporâneo ganhava força no final dos anos
sessenta, diminuindo a confiança do público em várias corporações, novas imagem verdes das corporações invadiu a
televisão, jornais e revistas. Essa onda inicial de lavagem verde foi
considerada na época por Mander e outros como “eco-pornografia”.
Parecia que
todo mundo estava pegando o trem. Foi a época do nascimento do movimento
antinuclear. Em resposta, Mander nota, a divisão de energia nuclear da
Westinghouse colocou anúncios coloridos
“em todos os lugares, elogiando as virtudes antipoluentes da energia atômica”
como “confiável, barata...limpa, segura”. ( As últimas versões desses anúncios
promovem a energia nuclear como resposta ao aquecimento global.) Enquanto isso,
só no ano de 1969, as empresas gastaram mais de 300 milhões de dólares em
publicidade – mais de oito vezes o que gastaram nas pesquisas antipoluentes que
eles estavam vendendo nos seus anúncios. No geral, Mander estimou que as
corporações de petróleo, química e automobilística, com outras indústrias
associadas, estavam gastando quase um bilhão ao ano em “ecopornografia” e no
processo estavam “destruindo a palavra ecologia
e talvez todo o significado do conceito.
Esta lavagem verde incipiente continuou
a partir do Dia da Terra em 1970 e nos anos Reagan.
Como os
anos oitenta produziram os desastres de
Bhopal, Chernobil e Exxon Valdez, o movimento ambiental ganhou força.
Como resposta, os anúncios de lavagem verde tornaram-se ainda mais numerosos e
sofisticados, chegando ao ponto culminante em 1990, no vigésimo aniversário do
Dia da Terra. Foi durante este ano de ecoauê que o “ambientalismo
corporacional” se fortaleceu nos Estados Unidos. As transnacionais começaram a
perceber que um número cada vez maior de consumidores queriam comprar produtos
verdes. De fato, no início dos anos 90, uma pesquisa mostrou que 77% dos
americanos diziam que a reputação ambiental das empresas afetavam o que eles
compravam. Numa outra pesquisa, 84% das pessoas viam os crimes ambientais das
empresas com mais severidade que o
comércio interno e manipulação de
preços.
Em resposta
a esse fenômeno, o mundo empresarial fez todo o possível para se vender e a
seus produtos como os mais verdes possível. Um quarto de todos os produtos
doméstico lançado no mercado americano na época dos vinte anos do Dia da Terra
anunciaram-se como “reciclável”, “biodegradável”, “amigos do ozônio” ou
“compostável”. Simultaneamente, alguns dos maiores poluidores mundiais gastaram
milhões cobrindo-se com uma reluzente e nova
cobertura pintada de verde – literalmente e figurativamente. A companhia
de petróleo ARCO, por exemplo, escondeu suas instalações de Los Angeles atrás
de uma fachada de palmeiras e cachoeiras artificiais, levando um comentador a
compara-la a uma “versão industrial de cosmética dentária”. DuPont juntou-se com a gigante da Madison Avenue,
BBDO, para produzir um anúncio cheio de leões marinhos, baleias e golfinhos
saltando e flamingos voando, com o fundo musical “Ode à Alegria”, de Beethoven,
para projetar sua nova imagem verde. E a Dow Química, a maior produtora mundial do ambientalmente
perigoso chlorine, usou a imagem do planeta Terra para promover seu “contínuo
compromisso” com o meio ambiente, o que, segundo ela, é sua prática desde a
fundação da empresa.
Na Europa,
a lavagem verde não é menor. A empresa química Suíça Sandoz, num esforço para reabilitar sua
imagem depois do vazamento em Basel, em 1986, lançou anúncios mostrando uma
floresta , uma lagoa tranqüila e um rio cristalino fluindo. Até certo ponto o anúncio era verdadeiro; em 1990
a Sandoz relocou sua perigosa produção de químicos para o Brasil e a Índia.
Enquanto isso, a empresa britânica ICI, que durante anos foi a segunda
produtora mundial do destruidor da camada de ozônio CFC ate ser forçada a
abandonar a produção, alardeou a mudança para HFC e HCFC – respectivamente gases
que aquecem o planeta e destroem a camada de ozônio – como introduzindo uma
“nova geração de fluorcarbonos inofensivos ao
ozônio.”
Esta
lavagem verde tóxica também despejou-se no Terceiro Mundo. Na Malásia, a ICI
produziu um anúncio claramente enganador nos jornais cujo título alardeava
“Paraquat e a Natureza Trabalhando em Perfeita Harmonia.” O anúncio, que
descrevia paraquat como “ambientalmente inofensivo,” continha uma série de
afirmações absurdas sobre este herbicida
altamente tóxico que envenenou dezenas de milhares de trabalhadores, só na
Malásia, é proibido em cinco países e está catalogado como um dos “doze sujos”
pelo Pesticide Action Network. Em New Delhi, DuPont lançou um anúncio ambiental
semanal no The Times of India no qual definia-se como uma defensora da
ecologia. A transnacional brasileira Aracruz Celulose anunciou para uma
audiência global que suas monoculturas, que a torna a líder mundial na produção
de polpa de eucalipto branqueado com chlorine, são uma “sociedade com a
natureza” e promoveu-se como um modelo de desenvolvimento sustentável. Na
Argentina, a EXXON alardeou seu apoio financeiro a um projeto para mangues com o seguinte título “Existe um
tigre que se preocupa com a gazela.” E na Russia, a Chevron lançou o seu
anúncio “Peaple Do” num esforço para diminuir a oposição da população aos seus
planos de extração de petróleo.
Enquanto a
globalização da economia se espalha, o mundo parece afogar-se em lavagem verde.
Este estado de coisas foi resumido no
ECO-92, no Rio, quando o secretário geral do encontro, Maurice Strong,
criou um fundo ecológico para financiar o evento. O Eco-Fundo concedeu direito
de franquia de logos da ECO-92 para empresas como ARCO, ICI e membros do grupo Mitsubishi como Asahi Glass.
Foi em 1985
que a Chevron lançou os seus anúncios “People Do”. Ainda ativo dez anos depois,
a série “People do” é um caso para estudo do sucesso da lavagem verde. Ela
começou quando Chevron perguntou-se se seria produtivo ou não elaborar uma
campanha publicitária para uma “audiência hostil” de pessoas “socialmente
responsáveis” preocupadas com questões como exploração de petróleo em alto
mar.
Produzida a
custo de 5 a 10 milhões de dólares ao ano, a campanha consiste de uma série de
anúncios, cada um incluindo um projeto da Chevron “Peaple Do”. Além do projeto
da “área de preservação” da borboleta, na refinaria El Segundo, os anúncios promoveram recifes
artificiais feitos com antigos tanques dos postos de gasolina que a companhia
afundou perto da costa da Florida, seu esforço para proteger ursos
perto de seu local de extração, em
Montana, e um habitat artificial para
raposas no Central Valley, California. Outros anúncios promovem os projetos da
empresa na Austrália e Canadá.
“People Do”
tem sido criticado em vários níveis. Por exemplo, a Chevron está gastando muito
mais promovendo sua imagem através desses projetos do que nos próprios
projetos. Produzir um anúncio de trinta segundos pode custar 200,000 dólares,
enquanto o programa da borboleta custa só 5000 dólares ao ano à companhia. Esta
estimativa não inclui os milhões que a Chevron gasta comprando espaços nas
revistas e tempo na TV. Além disso, os críticos afirmam que os anúncios são
enganosos. Alguns dos projetos “People Do”, como os programas para proteger os
ursos em Montana, aves aquáticas no Mississipi, águias em Wyoming e raposas na Califórnia, são programas
obrigatórios por lei. No entanto os anúncios ou não mencionam ou subestimam este fato. Herbert Chao
Gunther, diretor do Public Media Center em São Francisco, observa que “os
anúncios são uma apresentação seletiva dos fatos fora de contexto. Chevron dá a
entender que talvez nós não precisemos de um a estrutura regulamentar porque a
companhia está cuidando do problema.”
De fato,
parece que um dos maiores motivos da campanha “People Do”’ é a agenda de
desregulamentação da transnacional. Uma investigação da campanha “People Do” por uma estação local de TV
de São Francisco descobriu que embora a
Chevron venda gasolina na maior parte do país, a empresa só veiculou seus
anúncios nos três estados que são os maiores produtores de petróleo nos Estados
Unidos continental – Califórnia, Texas e
Louisiana - local onde extraem e refinam a maior parte do seu petróleo e ,
consequentemente, onde é mais
severamente regulada. Confrontados com esta evidência, os representantes
da Chevron insistem que a campanha
“People Do” não é um “programa de advocacia política” ( se assim
fosse, seus anúncios não seriam isentos fiscalmente). Mas o único outro lugar
nos Estados Unidos onde a Chevron veicula seus anúncios “People Do” é em
Washington, DC, dificilmente um mercado importante de gasolina.
A despeito
do ceticismo público e críticas dos ambientalistas, a estratégia do “People Do”
parece ter funcionado. Pesquisas feitas pela Chevron na Califórnia dois anos
depois que a campanha foi lançada revelou que ela se tornou a companhia de petróleo que as pessoas mais
confiavam para proteger o meio ambiente. A lavagem verde também deu retorno nos
postos de gasolina. Entre os que viram o comercial, as vendas da Chevron
cresceram 10 por cento, enquanto entre a audiência considerada potencialmente
antagônica, pessoas socialmente engajadas, as vendas pularam para 22 por cento.
Assim o representante da Chevron em pesquisas de relações pública conclui
que “dá retorno anunciar para audiências
hostis.”
Nesses
anos, várias iniciativas têm emergido para promover um maior grau de verdade e
responsabilidade na publicidade. Nos anos 1960s e 1970s associações de defesa
do interesse público nos Estados Unidos infrutiferamente pressionaram a implementação da “justa
doutrina” que permitiria a pontos de vista opostos e responsáveis, tempo livre
para contestar os argumentos das
empresas. Numa tendência positiva, a propaganda de cigarro agora está proibida
na televisão na maioria das democracias industrializadas, enquanto o anúncios
de álcool e anúncios de coisas não saudáveis
como fast food estão na linha de fogo. Além disso, um dos pontos mais
importantes que os organizadores do boicote internacional contra a Nestlé
ganharam foi a implementação de um código de conduta da Organização Mundial de
Saúde. O código solicita que os governos proíbam a propaganda e promoção
de formulas infantis que são perigosas
no terceiro mundo, onde são frequentemente misturadas com água contaminada.
Outras
iniciativas também surgiram para impedir a onda de lavagem verde. A Comissão
Federal de Comércio dos Estados Unidos publicou uma série de diretrizes
objetivando o fim de anúncios enganadores de lavagem verde. E em 1990 uma
equipe de doze procuradores estaduais publicaram um relatório que solicitava
que as propagandas ambientais sejam “o
mais específicas possível, e não vagas, incompletas e generalizadas.” Na França
e na Holanda os ambientalistas introduziram um código publicitário de doze
pontos nas suas assembléia nacionais. Independentes regimes de selos verdes tem
aparecido em vários países. O melhor desses esforços tentam criar critérios
imparciais para avaliar o efeito no meio ambiente de um produto através de sua existência.
Outras
estratégias empregadas pelos ativistas e representantes do governo que lutam
para freiar a promoção de produtos
perigosos, tem sido responder fogo com fogo. Na Califórnia, por exemplo, uma
taxa sobre tabaco exigida pelos eleitores financiou uma poderosa campanha de
outdoors com a seguinte mensagem “Fumar Mata” para contrabalançar os anúncios
da indústria de tabaco. E organizações sem fins lucrativos, como a localizada
em São Francisco, Public Media Center, tem veiculado um grande número de
campanhas, nacional e internacionalmente, em apoio as lutas contra empresas
destrutivas social e ambientalmente. Apesar de serem superados em gastos pelos
seus oponentes transnacionais, esses esforços provaram ser um componente
altamente eficaz para estratégias de organização mais amplas objetivando
justiça social e ambiental.
A despeito
dessas iniciativas, entretanto, como a propriedade da mídia está-se tornando
cada vez mais concentrado nas mãos de algumas corporações gigantes, e como a
globalização econômica promove a crescente penetração da mídia nos mercados de consumo do Sul e Leste, a lavagem
verde, e o modelo de consumo danoso ambientalmente que a acompanha, continua a
jorrar.
IMAGENS GLOBAIS E A PRODUÇÃO DE DESEJO
A profunda
influencia que as corporações têm sobre palavras e imagens transmitidas ao
publico em geral, afeta seriamente como vivemos nossas vidas, como vemos o
mundo e como compreendemos a natureza da crise ambiental e as mudanças
necessárias para corrigi-la. O controle direto da mídia pelas corporações
tornou-se cada vez mais concentrado deste a Segunda Guerra Mundial. Em 1945
mais de 80 por cento da produção da mídia americana era considerada
independente das grandes corporações. Em 1982 apenas cinqüenta corporações
controlavam mais da metade da grande mídia americana, incluindo jornais,
revistas, radio, televisão, livros e filmes. Em 1993 este número diminuiu para
menos de vinte. Em 1995 a tendência intensificou-se quando as empresas de
telecomunicação ,computadores e mídia fundiram-se e adquiriram uma às outras
numa velocidade estonteante.
A despeito
das afirmações de objetividade pelos líderes da mídia, essa concentração de
propriedade resulta em informações severamente deturpadas que prejudica o discurso democrático e o papel que ele deveria ter para promover a
sustentabilidade ecológica. Por exemplo, numa reportagem sobre boicote nos anos
oitenta, um repórter da NBC deixou de mencionar o boicote mais importante da
época – o que o grupo INFACT estava promovendo contra a General Eletric (GE)
por produzir armas atômicas. Não é
nenhuma coincidência que a GE é dona da NBC. E quando a estação passou um
documentário elogiando a energia nuclear (sem mencionar que seu proprietário é
um dos maiores construtores de usinas nucleares), ou quando a setor de notícia
do canal passou umas séries de reportagens sobre novos aparelhos para tratar
câncer da mama (sem mencionar que os aparelhos são fabricados pela GE), a
suposta objetividade da mídia parece mais uma operação de marketing e relações públicas.
Os próprios
termos do debate e a liberdade da imprensa são também severamente limitados
pela constância da autocensura economicamente motivada. Os canais de televisão
e as revistas frequentemente recusam-se a fazer reportagens sobre os impactos
sociais e ambientais de um determinado produto, corporação ou indústria. A
razão? De acordo com o Center for the Study of Commercialism, tais coberturas
colocaria em perigo parte dos 3 bilhões de dólares que as corporações gastam em
publicidade só no mercado da mídia americana – dinheiro que algumas
corporações não tem nenhuma vergonha em ameaçar retirar.
O controle
da mídia pelas corporações é ainda mais intenso no Japão. Dentsu, a maior
empresa de publicidade do mundo, que trabalha para quase todas as grandes
multinacionais do Japão, fica com cerca
de um quarto dos 34 bilhões de dólares gastos anualmente em publicidade no
Japão. Esta é uma enorme percentagem quando consideramos que Young and Rubicam, a contrapartida da Dentsu
nos EUA, fica só com 4 por cento do mercado americano. As televisões comerciais
do Japão são altamente dependentes em relação à Dentsu, cujo enorme peso em
publicidade dá-lhe um grande grau de influencia sobre o conteúdo do que vai ao
ar ou publicado. O controle da Dentsu é reforçado pela sua participação como
acionista em alguns canais de TV, jornais e agencias de notícia como o Kyodo
News Service e Jiji Press. Finalmente, Dentsu controla a Video Research
Company, a agencia nacional de pesquisa (a princípio independente na maioria
dos países) que determina se um programa
de TV vai ter sucesso ou não.
As atividades da Dentsu incluem a
censura de mensagens sobre questões ambientais ou de direito do consumidor que
poderia prejudicar o prestígio de seus clientes. A Dentsu suspendeu com sucesso
reportagens sobre leite contaminados com arsênico e as mortes causadas pelos
remédios de uma companhia farmacêutica. Ademais, um executivo do setor de
publicidade e comunicação da gigante gabou-se uma vez que quando o jornal Yomiuri convidou o advogado dos
direitos do consumidor, Ralph Nader,
para visitar o Japão, a Dentsu conseguiu impedir uma reportagem especial
de duas páginas que estava planejada e obrigou o jornal a diluir a cobertura fragmentada
do evento. E, simultaneamente, pressionou o jornal Mainichi a publicar uma
reportagem “moderada” sobre o movimento dos consumidores, criticando a visão de
Nader. E a Dentsu, com sua agencias irmãs Hakuhodo and Tokyo, foram também
responsáveis pela propagação de uma grande quantidade de lavagem verde através
do Japão.
Já tão
forte nos EUA e Japão, o controle da mídia pelas corporações está aumentando na
União Européia também. Nos anos oitenta, foram privatizados monopólios públicos
de comunicação na Bélgica, França, Itália, Alemanha, Noruega, Portugal,
Espanha, e Suíça. Isto abriu a Europa Ocidental a um dilúvio de publicidade
numa escala comparável com os EUA. Hoje a União Européia tem um mercado comum
de mais de 330 milhões de consumidores,
muitos deles conscientes ecologicamente, com 4 trilhões de dólares de renda
disponível – uma gorda meta para os publicitários.
O controle
das corporações sobre a mídia está aumentando tanto no Sul quanto no Leste, ajudada pela
proliferação das políticas de ajustamentos estruturais e de livre comércio
promovidas pelo Banco Mundial/FMI. Na América Latina, as privatizações e os
acordos de livre comércio não apenas induziram as multinacionais a comprar
empresas locais e implementar sistemas regionais de produção e distribuição,
como também induzir as cadeias de Tv como NBC, CNN e a mexicana Televisa a
expandir-se e a criar programações regionais. Consequentemente, as agencias de
publicidade estão começando a produzir o mesmo anúncio para o mesmo produto que
são lançados de Tijuana à Tierra del Fuego. Como nota um analista, não está
longe o tempo quando “os consumidores das Américas começará o dia com o mesmo
cereal, suco, queijo e outros produtos industrializados.... Quando as marcas
serão as mesmas, as embalagens idênticas, a mesma campanha publicitária”. Na
Asia, o Wall Street Journal informa que o
popularíssimo Star TV de Rupert Murdoch, que leva ao ar MTV e notícias
da BBC, ao lado de programações regionais na língua chinesa e indiana, foi
criado inicialmente como “formato ideal de publicidade pra o crescente número
de consumidores ricos”.
Este
alcance global da mídia das corporações transnacionais e da publicidade, e com
isto a globalização da ideologia do consumismo ocidental, dá continuidade a um
processo que começou há centenas de
anos. Como observa Anthony Simoes, que trabalha Fundação Goa, na costa sudoeste
da Índia, “a televisão por satélite amacia a população para as multinacionais
da mesma maneira que o Cristianismo amaciou a população para o colonialismo”. A
única diferença, nota ele, é que o Cristianismo tinha alguns sustentáculos
morais.
A
globalização de imagens e produtos é facilitada pela globalização de
tecnologias que levaram um número crescente de pessoas a comprar televisores.
Entre 1980 e 1990, uma década em que a renda média na América Latina caiu 40
por cento, o número de televisores per capita na região cresceu 40 por cento.
Similarmente, durante o mesmo período, o número de televisores na Índia saltou
de 3 para 14 milhões. Atualmente quase a metade da população mundial tem acesso
às emissões de TV.
Através da
promoção do mesmo produto, estilo de vida, modelos e valores em todo o planeta,
a televisão impulsiona a disseminação global da cultura homogênea de consumo –
a qual Vandana Shiva se referiu coma
“monocultura mental”- que está destruindo e substituindo a vasta diversidade de mais de
6.000 culturas em todo o globo. Esta ética de consumismo desenfreado sustenta
o esgotamento acelerado e saque dos
recursos naturais do mundo. No Sul e no Leste, as pessoas estão abandonando as
tradicionais, em geral sustentáveis, formas de vida para consumir recursos
extraídos, manufaturados e comercializados pelas multinacionais. E enquanto os
países industrializados do Norte quase que não fazem nada para reduzir seu
exagerado consumo de recursos, a globalização do modelo de consumo americano
atrai mais e mais pessoas para participar de um estilo de vida completamente
insustentável que já está destruindo os sistemas de sustentação da vida no
planeta. Dessa maneira a destruição da diversidade cultural do mundo está
entrelaçada com a destruição da diversidade biológica mundial – e com isto o
equilíbrio ecológico da Terra.
Muitos
líderes das corporações negam que as transnacionais e a mídia que elas
controlam são responsáveis pelo aumento dos níveis de consumo no Norte ou Sul.
O executivo da Kobe Steel, Takyua Negami, por exemplo, como tantos dos seus no
mundo das corporações, insiste que “as atividades das corporações são uma
sombra do desejo das pessoas. Se as pessoas não desejarem gastar mais, as
vendas não existirão. Assim não são realmente as corporações que estão
liderando as pessoas. É o desejo das pessoas que propicia às corporações espaço
para crescer.”
De um lado,
o argumento de Negami parece verdadeiro. Os consumidores individuais devem ser
responsáveis pelo seu papel para o empobrecimento ambiental e social do
planeta. Por outro lado, ele injustamente coloca a responsabilidade por muitos
dos problemas sociais e a crise ecológica numa dinâmica individual em vez de
global, absolvendo assim as transnacionais da sua substancial parte de culpa.
Na verdade, existe um forte argumento a ser feito de que as corporações produzem o desejo de consumir
seus produtos – que são criadas necessidades artificiais e a demanda estimulada
pela propaganda e estratégias da mídia que transmite MTV ou “Estilo de Vida dos
Ricos e Famosos” aos cantos mais remotos
do planeta. Como opina a Associação de Consumidores Malasianos de Penang, (CAP)
“Ao dar uma aura de glamour e superioridade aos produtos modernos e
estrangeiros (ou “estilo estrangeiro”), a publicidade subverteu tremendamente a
cultura local e os produtos dos povos do Terceiro Mundo.” A CAP relata que os
anúncios nos jornais e rádios tem sido tão eficazes na Malásia que persuadiram
famílias de pescadores a deixar sua própria pesca e comprar sardinhas em lata.
O
catedrático indiano Rajni Kothari argumenta que “se pedisse às pessoas para escolher entre água limpa e televisores
ou entre ar e carros, a maioria iria optar por água e ar.” Embora esta seja
efetivamente “a escolha diante do mundo” continua Kothari, “ nunca lhe é
permitida ser apresentada como tal.” Em vez disso, como observa o escritor John
Berger, a publicidade cria seus próprios
argumentos superficiais de debate:
OS MÁGICOS DAS RELAÇÕES PÚBLICAS
No seu
relatório sobre a indústria de relações públicas, intitulado Lodo Tóxico é Bom para Você, John
Stauber e Sheldon Rampton mostram que “a publicidade era o trabalho de vendedores de carnaval e carreiristas fumando
charutos baratos e vestidos ternos vulgares”. O Mágico de Oz encaixa-se nesta
descrição. “O homem atrás da cortina” do filme famoso – o grande e todo
poderoso Oz – não era mais que um anão carnavalesco que se encheu de ilusões.
Ao contrário, “os profissionais de RP de hoje,” escrevem Stauber e Rampton,
“são recrutados na classe dos ex-jornalistas, políticos aposentados e
diligentes graduados ansiosos por fazer carreira no mundo das corporações. Eles
confraternizam internacionalmente com grandes executivos, senadores e
presidentes americanos. Usam psicologias sofisticadas, pesquisa de opinião e
dados complexos de computador tão refinados que podem apontar a “psicografia”
dominantes de determinados bairros.”
Estes são
os mágicos das Relações Públicas. Os serviços que eles fornecem à “Cidade
Esmeralda” cresceram em importância
nas últimas décadas desde que E. Bruce Harrison lançou o ataque ao livro de
Rachel Carson, Primavera Silenciosa.
Nos últimos trinta anos, as multinacionais crescentemente integraram Relações
Públicas (RP) na base de seus planejamentos estratégicos. Tomemos, como
exemplo, o caso da Exxon Valdez, no
qual RP teve um papel central, antes, durante e depois da crise.
No fim dos anos setenta a Exxon
implementou uma estratégia de RP que ajudou a preparar o terreno para o
desastre. Na época, a Exxon e seus parceiros da indústria petrolífera estavam
tentando criar condições ideais para extrair óleo no Alaska, construindo um
duto através de áreas virgens e embarcando no Porto de Valdez, através de
Prince Willian Sound até os Estados Unidos. A Exxon trabalhou vigorosamente
para contrapor-se a seus críticos no Alaska. Ela fez de tudo para opor e
retardar o que classificou como “regulamentações desnecessárias para navios
tanques” transitando no Estreito de Valdez. A companhia estava especialmente
preocupada com a proposta do Alasca para aumentar os tributos sobre os navios
tanques que não obedecessem aos
regulamentos estaduais. Ao mesmo tempo, a Exxon trabalhou com o resto da
indústria petrolífera para combater as exigências de cascos duplo nos navios
tanques na parte ocidental dos Estados
unidos.
Para impedir uma série de propostas
consideradas “prejudiciais às indústrias de petróleo,” a Exxon criou uma
campanha de base para influenciar a assembléia legislativa do estado do Alaska. Num “plano de ação” para
a sessão da assembléia em 1977, as gigantes do petróleo delinearam suas
estratégias, que contêm muitos dos componentes chaves que a indústria de RP continua
a usar até hoje: “Informações selecionadas...serão
enviadas em cartas personalizadas aos formadores de opinião em todo o Estado.
Pediremos a esses contatos que escrevam ou telefonem a seus representantes (
deputados ) para lhes comunicar suas opiniões. Será elaborada uma lista de
contatos de “base” com líderes empresariais, sindicalistas, educadores, líderes
populares, proprietários dos meios de comunicação e contratantes e fornecedores
industriais. Serão necessárias visitas para desenvolver vários desses contatos.
Relações públicas e anúncios publicitários também serão utilizados para ganhar
o apoio do público para as políticas de boa taxação para a indústria petrolífera. Serão incluídos
na campanha publicitária jornais, rádios e anúncios de TV. O programa de
relações públicas incluirá resumos para a mídia, excursões, entrevistas nas
rádios e TVs e preparação e distribuição de material impresso. Ademais, uma
campanha de envio de cartas será organizada entre os empregados da Exxon no
escritório central.”
Como William Greider documenta completamente
no seu livro Who Will Tell the
People?(Quem Contará ao Povo?) tais blitzes de relações públicas
frequentemente tiveram o efeito de subverter o processo democrático sufocando
as opiniões críticas e reforçando a agenda das corporações na arena legislativa.
De fato, no caso do Alaska, as grandes companhias petrolíferas ganharam a
batalha contra os oponentes do tráfico de navios tanques no Estreito de Valdez.
O desastre aconteceu uma década depois.
Com o navio tanque Exxon Valdez vazando óleo na primavera
de 1989, as atividades de relações públicas se intensificaram. A Exxon
contratou várias firmas de relações públicas para ajudá-la a tentar controlar a
repercussão do caso na imprensa. O fator RP depois do vazamento do Valdez foi tão proeminente ( embora
ineficaz ) que a Lloyd de Londres e mais 100 companhias de seguro, processaram
a Exxon. Além de insistir que o vazamento resultou de “deliberada, temerária, desleixada e ou
intencional má conduta”, as companhias
seguradoras afirmaram que os
esforços da Exxon para voluntariamente “limpar” o óleo derramado imediatamente
depois do desastre do Valdez era um
truque de relações pública patrocinado “somente com o propósito de preservar a
sua imagem.” As companhias de seguro insistiram que eles não iriam pagar as
despesas das limpezas cosméticas desde que “não existe cobertura para perdas
incorridas como resultado de incidentes de relações públicas.”
Embora os esforços da Exxon tenha falhado para diminuir grande parte da
publicidade negativa e responsabilidade legal pela vazamento no Alaska ( em
muitos casos a companhia manteve sua imagem negativa ), as poucas corporações
que dominam a indústria de relações públicas estão tendo um papel chave
crescentes nas políticas ambientais mundiais.
Stauber e Rampton escrevem que “especialistas de RP – em
Burson-Marsteller, Ketchum, Shandwick, Bruce Harrison e outras firmas – estão
combatendo e ganhando a guerra contra os ambientalistas em favor das
corporações clientes nas indústrias química, de energia, de alimentos,
automobilística, de florestas e de mineração. As empresas de relações públicas,
muitas das quais são subsidiárias das maiores empresas mundiais de publicidade,
gerenciam o que chamam de estratégias de “comunicação integrada”. Estes esquemas geralmente combinam o uso
de anúncios sagazes de lavagem verde e
a inserção de reportagens “reais” na mídia, serviços que vão dos planos de
marketing do verde até espionagem,
“gerenciamento de crise” e orquestração
de falsas campanhas populares até lobbys de alto nível.
No entanto, poucas pessoas já
ouviram falar, nem muito menos viram, estes mágicos. Opacamente onipresentes,
ficam atrás da cortina controlando, às escondidas, os efeitos especiais que
sustentam a Cidade Esmeralda. Mesmo se olharmos de perto, é difícil ver além da fumaça e dos espelhos. A
indústria de relações pública é composta quase exclusivamente de empresas
relativamente pequenas que não vendem ações ao público e, portanto, não têm que
prestar satisfação de suas atividades. Além disso, como relata Kevin McCauley,
editor senior da O’Dwyer PR Service
Report, uma revista mensal sobre esta indústria, “ninguém sabe realmente o
tamanho da indústria de RP porque ninguém sabe exatamente o que ela
produz.”
Não obstante, algumas cifras da
indústria estão disponíveis. Por exemplo, as cinqüenta maiores empresas
publicitárias do mundo, que incluem a maioria das companhia mães das maiores
firmas de RP, faturaram mais de 18 bilhões de dólares em 1991, com mais de 70
por cento dessa renda concentrada nas 10 maiores empresas. Enquanto isto,
estimativas conservadoras colocam a renda das firmas de RP localizadas nos
Estados Unidos em 10 bilhões. Dessas rendas, a assim chamada RP ambiental
representa cerca de 10 por cento do total. Se as despesas internas das
corporações fossem incluídas, esta soma seria muito maior. Além disso, a
despeito de sua renda relativamente pequena ( comparada com outros setores das
corporações ) , a indústria de RP tem peso considerável. As 150.000 unidades de RP que trabalham para
“plantar”, “controlar”, e “massagear”
noticias nos Estados Unidos, por exemplo, excedem os 130.000 jornalistas do
país.
Para se entender melhor o alcance e
a influencia da indústria de RP, vale a pena ver de perto o mais poderoso dos
mágicos, Burson-Marsteller e sua companhia mãe, Young and Rubicam, que tem mais
de 300 representações em sessenta e quatro países. O grupo Young and Rubicam é
um líder global em todos os campos da comunicação. Seus lucros anuais chegam a
1 bilhão. Através de suas subsidiárias Young and Rubicam trabalham com publicidade, relações pública,
comercialização direta, “consultoria em identidade e desenho” e também
trabalhos especializados em áreas como “comunicação de planos de saúde”. É a
única proprietária do Bravo Group, especialista em comunicação hispânica nos
Estados Unidos, tem uma sociedade com a japonesa Dentsu que atinge quatorze
países, colocando a seu alcance o Japão e os florescentes mercados da Ásia e
trazendo também clientes japoneses buscando representação nos Estados Unidos ou
em outros locais. Ademais, Young and Rubicam operam na Europa, África, América
Latina e o Oriente Médio.
A subsidiária da Young and Rubican,
Burson-Marsteller (BM), é a maior firma de relações pública no mundo, com
lucros anuais de 200 milhões. Por sua vez, BM
é proprietária de algumas subsidiárias, incluindo duas poderosas firmas
de lobby em Washington, D.C., e uma em Bruxelas, a capital da União Européia.
“Nosso alcance global, sustenta BM, “nossa experiência e nosso pessoal faz com
que a Burson-Marsteller tenha uma parte mais substancial nas decisões das
estratégias de comunicação e marketing das corporações do que qualquer outra firma no mundo”. De
fato, a lista de mais de cem clientes que se beneficiam dos serviços da BM inclui o nome de algumas das maiores
transnacionais do mundo, incluindo Asea Brown Boveri, Chevron, Ciba Geigy, dow
Chemical, DuPont , Forde Motor, Genentech, General Electric, ICI, Kerr-McGee,
Rhone Poulenc Rorer, Sandoz, Scott Paper e Sell. A Burson-Marsteller
também foi responsável pela imagem do
Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, no Rio-92.
A Burson-Marsteller e suas colegas
de indústria estão sempre jumtas às multinacionais em época de desastres. Eles
fornecem equipes de RP especializadas em “comunicação em momento de crise” – o
jargão para dar a melhor imagem possível das corporações em época de explosão
de uma indústria química, um vazamento de óleo de um navio tanque, ou um
protesto de ambientalistas na sede de alguma empresa. A indústria de RP também
fornece serviços permanentes de
“gerenciamento de questões.” Como explica uma brochura da Burson-Marsteller: “comumente as corporações enfrentam
questões de longo prazo levantadas pelas preocupação de militantes (por
exemplo, África do Sul, alimento para bebês) ou controvérsias sobre produtos
perigosos.... Os especialistas da Burson-Marsteller tem anos de experiência em
ajudar seus clientes a resolver essas questões. Eles adquiriram experiência com
os grupos militantes chaves (religiosos, consumidores, étnicos, ambientais) e
as táticas e estratégias dos que levantam e sustentam essas questões. Nossos
conselheiros em todo o mundo ajudaram seus clientes a contrapor-se às preocupações com a saúde gerada por aditivos em alimentos,
segurança dos instrumentos médicos, ética na publicidade, responsabilização por
produtos perigosos ou questões políticas
como a África do Sul.”
Ademais, a indústria de RP fornece
“serviços de comunicação populares.” Estes incluem infiltração nos grupos
ambientalistas e organização de grupos
de defesa dos interesse dos clientes. Como exemplo, na British Columbia, (B.C.)
Canadá, conhecida como o “Brasil do Norte” por
seus graves problemas de desmatamento, a BM idealizou uma coalizão
“popular” a B.C. Forest Aliance. O grupo cinicamente insiste que é uma
associação de cidadãos imparciais que deseja “uma solução da B.C. para os
problemas da B.C.”. Embora a B.C. Forest
Alliance, além de ser apoiada pela transnacional de madeira canadense,
MacMillan Bloedel, é financiada também por muitas madeireiras de fora, que operam no oeste do Canadá, incluindo a
Weyerhaeuser dos Estados Unidos e a Mitsubishi ( Crestbrook Industries) do
Japão. Num determinado momento, a Alliance contratou um empregado da
Burson-Marsteller como seu diretor executivo.
Em 1997 a BM organizou uma campanha
similar denominada Fundação para o Progresso da Limpeza do Ar. Isto era parte
de uma ampla campanha das corporações contra os esforços do diretor da EPA,
Carol Browner, para aumentar os padrões de controle da poluição
atmosférica.
CODIGO DAS
CORPORAÇÕES: O PODER DA SALA DE AULA
Uma das manifestações da resposta
da RP ao ambientalismo é a proliferação de diretrizes e princípios ambientais
das corporações. Uma das principais funções desses códigos voluntários é evadir
a exigência pública por fortes regulamentação e controle dos governos das
atividades industriais. Por exemplo, a International Standarts Organization
(ISO) – uma organização publica-privada dominada por grandes corporações
transnacionais – está servindo como um foro global para criar padrões de
gerenciamento ambiental, desempenho e classificação ecológica. Embora os
padrões da ISO ajudem implementar
padrões uniformes onde estes poderiam não existir, sua função é
problemática por um número de razões, incluindo as seguintes. Primeiro, não
existe nenhum mecanismo para a fiscalização pública dos padrões gerenciais. Segundo,
a organização está adotando um sistema de rotulagem ecológica que só fornece
informações de como um produto é produzido, em vez de avaliar se o produto é
ecologicamente saudável ou não. Terceiro, como as regras do ISO tornam-se padrões reconhecidos internacionalmente, a
Organização Mundial do Comercio pode usá-las para contrapo-las a outros
controles ambientais mais severos, taxando-os de barreira ao livre comércio.
Quarto, está servindo como empecilho para a criação de padrões internacionais
obrigatórios.
Outro proeminente código das
corporações é o Chemical Manufacturers Association’s Responsible Care program.
O gerenciamento responsável emergiu depois do desastre de Bhopal. Nas palavras
de E. Bruce Harrison, ele “nasceu em função
da imagem negativa da indústria química” e objetivava “tranqüilizar o
público preocupado – especialmente os vizinhos das fábricas –com questões como
se os equipamentos estão sendo operados com segurança, e se as empresas cuidam
de seus empregados e da comunidade.”
Tendo uma forte liderança no
Gerenciamento Responsável, enquanto produz anúncios louvando seu interesse pelo
meio ambiente, está a Union Carbide. Embora em 1994, dez anos depois do
acidente de Bhopal e da fundação do “Gerenciamento Responsável”, Carbide, a décima
indústria química nos Estados Unidos, tinha mais de três vezes o número de
acidentes do que o seu pior competidor e tinha o segundo lugar em pior
gerenciamento em saúde e segurança da indústria química. A Carbide também
esteve sob contínuo fogo por não trabalhar com seus empregados e a comunidade
para resolver esses problemas. Quando examinamos esse comportamento, fica claro
que o Gerenciamento Responsável tinha
mais o objetivo de recuperar a imagem da Carbide e da indústria química
do que trabalhar por um ambiente limpo e seguro.
E. Bruce Harrison argumenta que o
Gereciamento Responsável serviu como um importante instrumento de RP para a
indústria química. Observa que o programa “fornece um argumento digno de
crédito para manter-se... livres dos códigos de conduta, como os Princípios de
Valdez, desenvolvidos por organizações independentes.” Assim quando os
acionistas de várias companhias químicas solicitaram a implementação dos
Princípios de Valdez – propostos pela
Coalizão por Economias Ambientalmente Responsáveis( CEAR), um grupo de
organizações ativistas e investidores institucionais de igrejas e fundo de
pensão – foram assaltados com uma blitz de RP das corporações. Como explica
Harrison,
“RP entrou a todo vapor. As
empresas falaram incessantemente sobre
comprometimento ambiental, com e sem referencia ao código proposto, e
garantiram que o assunto fosse coberto antes, durante e depois do encontro
anual. Como as companhias disseram não ao CEAR? Quando pergundados pela mídia
se eles iriam assinar os Princípios CEAR, as empresas geralmente responderam da
mesma maneira: Não, não estamos
assinando. Nós temos o nosso próprio índice de princípios em ralação à gerência
e proteção ambiental. Eis o que diz...
Finalmente , a CEAR cedeu à pressão
das corporações no início dos anos 90s e, nas palavras de Harrison, modificou
seus princípios para torná-los “mais aceitável para os industriais que eles
atacaram.” Deste então, corporações como a General Motors E Sun Oil melhoraram
a sua imagem assinando o CEAR.
Enquanto as corporações, grupos
industriais e firmas de RP estão evitando movimentos por maior controle público
e responsabilidade das empresas, estão também se infiltrando nos sistemas
educacionais num esforço para impedir o surgimento de uma nova geração de
ativistas ambientais críticos. Tais iniciativas, que datam dos anos 70s, nos
Estados Unidos, ganhou força nos anos
90s, se espalhando também por outros
países. O maior culpado por isto é a Exxon, que está reescrevendo a história do
vazamento de óleo do Valdez para uma
audiência nacional de jovens manipuláveis. Enquanto um júri do Alaska estava
concedendo a 10.000 pescadores, 4.000 habitantes do Alaska e outros 20.000
queixosos mais de 5 bilhões de dólares de indenização, a ser paga pela Exxon, a
companhia estava distribuindo, gratuitamente, sua versão do episódio para
10.000 professores primários, para ser vista por crianças demasiadamente jovem
para recordar o devastador vazamento de óleo em Prince Willian Sound. Enquanto
o júri determinou que o vazamento eliminou a maior parte dos meios de
sobrevivência dos queixosos, destruindo locais de caça e pesca, o vídeo da
Exxon – cheio de imagens de estóicos cientistas limpando belos mamíferos do mar
– informou a uma nova geração de potenciais ambientalistas e consumidores que o
vazamento não dizimou a vida selvagem em Prince Willian Sound. Em adição a este cosmético está o
moderníssimo interativo “Energy Cube” da Exxon, um grupo de atividades e lições
encaixotadas distribuídos grátis, a nível nacional. O currículo do Cube
encoraja os alunos a fazer “escolha de energia no mundo real.” Embora no Cube
não haja nenhuma discussão sobre os impactos ambientais da energia fóssil, e o
único meio de ganhar nos jogos é escolhendo um caminho cuja fonte de energia é
o petróleo.
A Exxon é apenas um dos
participantes da invasão das escolas públicas pelas corporações. Como diz o Philadelphia Inquirer, “ A próxima vez
que a aula de seus filhos for sobre o meio ambiente, é provável que o material
distribuído pelo professor seja fornecido por Procter&Gamble... Ou Browning Ferris Industries... Ou Exxon,
Chevron ou Mobil.” Por exemplo, o programa da Procter&Gamble, “Decision
Earth”, que foi distribuído para 75.000 escolas, elogia o desmatamento como
benéfico porque ajuda “criar novos habitats para os animais selvagens”. A
Fundação Americana de Carvão oferece um currículo que não menciona a chuva
ácida ou aquecimento global, e, pelo contrário, ajuda os estudantes a
“identificar as razões pelas quais o carvão é uma boa escolha como combustível.”
E a Sociedade Nuclear Americana fornece aos professores um kit chamado “Science
/ Social Studies Fair Kit” que fornece instruções de como construir, passo a
passo, um reator nuclear. A Sociedade desconsidera o problema dos dejetos
nucleares, informando aos estudantes que “de tudo que produzimos resulta algum resíduo... se estivermos produzindo energia com carvão
ou nuclear, ou ovos mexidos!”
A propaganda direta também se
infiltrou na sala de aula. Um projeto chamado Channel One, desenvolvido pela
Whittle Communications e agora propriedade da Kolsberg, Kravis, Roberts,
faturam quase 100 milhões de dólares de publicidade ao ano fornecendo aparelhos
de TV grátis às escolas primária e
secundária. Em troca, a escola exibe doze minutos de programação por dia,
incluindo dois minutos de comercial. Visto por 8 milhões de estudantes em 40
por cento das escolas secundárias americanas, Channel One é um veículo ideal
para colocação de produtos, garantindo às empresas acesso à “maior audiência de
adolescentes da história da televisão.”
A capacidade das transnacionais para apoderar-se deste
nicho no sistema educacional americano pode ser atribuído, principalmente, à
atual falta de investimento do governo na educação pública – um componente da
agenda neoliberal. Como as verbas de educação foram cortadas e muitas escolas –
particularmente nas áreas pobres das
grandes cidades – estão quase falidas, as maiorias dos professores estão ávidos
por material. Comumente, ficam satisfeitos por receberem currículos matreiros
produzidos pelas corporações. Não obstante, uma rebelião contra Channel One
está em andamento. Os estudantes envolvidos com o festivo grupo nacional de
jovens “Unplug” fizeram greve e entraram na justiça pondo Channel One para fora da escola em algumas
comunidades. Enquanto isso, a National
Education Association (NEA) lançou uma campanha em 1994 para retirar os
investimento, dos professores e outros
empregados das escolas, dos fundos de pensão das empresas que anunciam através
do Channel One. O presidente da NEA, Keith Geiger, declarou, “queremos provar
que os americanos querem educação para seus filhos baseada na comunidade e não
imposta pelas corporações.”
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